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Refugiados venezuelanos por Edmilson Neto

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“Eu já vi a miséria de formas variadas, já vi crianças com fome porque foram abandonadas, e porque é criança e não tem como conseguir sustento. Já vi adultos abandonados porque o seu país é miserável e o dinheiro circulante é pouco. Já vi e convivi com muitas realidades de escravização que chocam a gente, mas aqui em Boa Vista, conversando com os Venezuelanos, eu vi algo muito diferente, difícil não chorar só ao ouvir.

Um professor olhar para você, e dizer com a voz embargada: ‘Sou professor posso dar aula do que você quiser, matemática, história e geografia…’. Eu não sabia o que fazer, meu olho marejou, a vontade era tirá-lo dali imediatamente. Ele estava magro, com olhos fundos, aparência de extremo cansaço. Embora eu estivesse lá para uma ajuda humanitária, e eu já sei disso de outras experiências, quanto mais foco eu tiver na ação, melhor será, mas é difícil. Saber que um salario mínimo de uma pessoa só dá para comprar dois “pollos”, (frango em castelhano), dois por mês… Era o que ele ganhava, para dar aula.

Meus sentimentos foram básicos, olhei para minha vida e enchi meu peito de gratidão, por nunca ter vivido aquilo. Chamei o professor para um lado da praça, olhei bem para ele e disse, como sempre falei a vida toda, para as vitimas de acidentes graves que atendia: – ‘Calma professor, mais um pouco e nós vamos tirar o senhor daqui. Se é aula de matemática, história e geografia que o senhor dá, é aula de matemática, história e geografia que o senhor vai continuar a dar. Seja bem-vindo ao Brasil, estamos nos unindo para ajudá-lo’.

É por essas e por outras razões que sempre que posso, ajudo. Com o peito cheio de gratidão”.

Relato de Edmilson dos Santos Neto , militar aposentado do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Coordenador do Projeto Chemin Du Futur, em Senegal, apoiado pela Fraternidade Sem Fronteiras. Edmilson acompanhou o trabalho de abrigo às famílias venezuelanas em Boa Vista, Roraima.

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