Desde 2010 com o sonho de ir para África e trabalhar em missões humanitárias, a enfermeira Jade Rohsner Carvalho Passos, de apenas 25 anos, realiza o sonho e participa de duas caravanas para Madagascar, pela Fraternidade Sem Fronteiras (FSF): A primeira ocorrida em fevereiro de 2018 e posteriormente, nesse mesmo mês, em 2019.
A profissional, também especialista em Doenças Tropicais, diz que esse sempre foi o seu objetivo e que há anos, com o coração batendo forte, assistia vídeos sobre a África na internet, sem saber explicar muito bem o motivo. Conformada com o tempo de espera, a voluntária conta que após a experiência da caravana, sua qualificação fez todo o sentido, pois foi importante para reconhecer patologias tropicais, saber agir e lidar com cada situação.
Ela explica que conheceu a FSF por meio de um vídeo no YouTube, começou a pesquisar, tornou-se madrinha e logo começou a se organizar para a caravana – que antes parecia um sonho distante. Depois de muita preparação e com brilho nos olhos só de pensar, ela embarca em sua primeira experiência, no dia 11 de fevereiro de 2018, junto 24 caravaneiros. A expectativa era grande e não para menos, ela foi uma das primeiras enfermeiras a viajar para a região de Madagascar com a caravana.
“Foi muita confiança e consegui arrecadar bastante doação dos médicos e profissionais da saúde de São Lourenço (MG), cidade onde moro, desde polivitamínico, antitérmico, analgésicos… o que foi também motivo de muita alegria”, destaca Jade.
Foi o primeiro voo internacional da enfermeira, que conta que teve que segurar o choro assim que avistou a África do Sul: “Vi uma savana maravilhosa iluminada por um sol tão forte e pensei ´Deus, me ajuda e levar um pouco de luz para esse lugar que já brilha tanto´”. E ela não só levou como aplaudiu o céu do continente africano. Como se deu isso? Antes é preciso ressaltar que a voluntária é aventureira e isso fez toda a diferença na sua vivência como caravaneira.
Por partes… de um trajeto raiz
“Sobrevoando a África, vemos a mudança de relevo, de vegetação… é tudo tão bonito que começam a surgir os questionamentos. Mas quando aterrissamos, tudo passa. A ficha cai, tudo fica mais superficial, à flor da pele e o vento com maresia toma conta do nosso corpo, brincando com a sensação de que estamos completamente suados, assim que descemos do avião”, descreve Jade, sobre as primeiras sensações da viagem.
Caminhando até o carro da FSF, ela lembra de uma fala do presidente do movimento humanitário, Wagner Moura: “Essa van é onde as coisas acontecem, é aqui que a farra fica boa!” [brinca]. E ela diz que logo retruca: “Eu quero aventura, não quero 4×4 [referindo-se aos outros veículos]”. E assim, a escolha do aplauso ao céu está traçada, sem que ela ainda saiba.
Em um determinado momento da viagem, em que ela brinca afirmando que estavam dirigindo em estradas no buraco e não com buracos na estrada, há necessidade de um desvio de caminho, devido a um acidente. “Chegamos em um ponto em que era preciso atravessar um rio e depois subir uma ribanceira. A van não ia aguentar, então tiramos o tênis, subimos a calça e adentramos na água. Houve um medinho de a van não subir com tanta bagagem, mas correu tudo bem e foi divertido. Wagner estava certo!”, rememora.
Após isso, chegaram em vilarejo onde a pobreza já estava à mostra… a população vestia roupas rasgadas, ferimentos infeccionados e havia moscas por toda parte, incluindo na comida.
Céu de aplausos
Estrada reta, buracos, cactos, calor e atolamentos frequentes. Era muito emoção para uma van só. Mas de repente, foi possível avistar uma cidade, e… o carro atolou na areia fofa!
Ironia do destino, todos os carros já haviam seguido em frente e estava somente a van para trás, em uma noite muito escura. Todos desceram do carro e se depararam olhando para o céu, ali… parados e emocionados!
“Era o céu mais lindo que eu tinha visto na vida, foi algo mágico. Falei: Temos que nos abraçar! Nos abraçamos em conjunto e como que em sintonia, batemos palmas pro céu. E não parou por aí, do nada começaram a surgir várias crianças, que nos agarraram – no bom sentido. Não sabemos de onde elas saíram, não tinham casas por ali… Brincamos que elas brotaram dos cactos e continuamos batendo palmas. Foi então que surgiram também alguns adultos e eu não lembro de sair andando, mas no meio do caminho começamos a ver a uns 100 metros à frente, o Campo da Paz. Tinha umas 50 crianças em cada braço meu, eu mal conseguia andar, era tomada por uma emoção gigante eu só sorria e sorria. Fomos recebidos com música e foi a coisa mais linda do mundo”, relata de forma comovente, a enfermeira Jade.
Segundo ela, 100% dos caravaneiros ficaram apaixonados pelo céu de Madagascar: “Não deve ter outro céu parecido no mundo inteiro. Toda hora tinha uma estrela cadente aparecendo. É realmente único”.
Atendimento
Sobre o trabalho realizado no local, Jade conta que houve muita sintonia entre os caravaneiros: “Só de olhar, nos entendíamos. Fizemos de tudo, desde tirar bicho de pé, cortar unha, curativos e auxílio em pequenas cirurgias feitas pelos médicos. Mas além disso, também teve dia que fui cozinhar, ajudar as crianças no banho… Tudo o que era necessário”. Ela inclusive também ajudou em um caso de desnutrição muito tocante, do menino Ângelo.
Para acordar tão disposta, antes do dia amanhecer, ela e uma turma decidiram dormir na varanda. “Era fresco e podíamos ver as estrelas. Uma das camas com a vista mais linda que já vi! Essa viagem marcou minha vida de todas as formas e não tenho palavras para agradecer!”, reforça emocionada a nossa madrinha e voluntária. Talvez, “masaotra betsaka” [obrigada, em Malgache – língua falada em Madagascar].
>> As próximas caravanas para Madagascar partirão nos dias 22 de setembro e 20 de novembro de 2019. Inscrições e informações: caranavas03@fraternidadesemfronteiras.org.br. Para saber mais sobre o Projeto Ação Madagascar, clique aqui.