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Entrevista: Clarissa Paz

Por: Suelen Targon

Clarissa Paz é coordenadora do projeto Nação Ubuntu

Já estava escrito. É assim que começamos a contar a história de Clarissa Paz com a Fraternidade sem Fronteiras e o projeto Nação Ubuntu. Mesmo que a forma e o momento pareçam coincidência, no fundo, os fatos estavam previstos para acontecer em decorrência da sua renúncia, amor ao próximo e fé.

Clarissa nasceu no Rio de Janeiro, é graduada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e pós-graduação em Responsabilidade Social Corporativa e as Organizações do Terceiro Setor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalho voluntário sempre fez parte de sua rotina e segundo ela, era o único momento de alegria genuína no dia a dia corrido. Mas foi no Malawi, especialmente, ao lado de quatro irmãos de coração: Maick Mutej, Frank Donald, Prince Kalolo e Felly Zihal, que ela chegou à conclusão de que sua missão era por lá.

Mais de 19 mil crianças vivem no campo de refugiados Dzaleka, no Malawi e, muitas dessas crianças são órfãs. Outra situação preocupante é que cerca de 40 mil pessoas vivem em um espaço construído para abrigar 10 mil. As condições são precárias, a realidade é difícil. Contudo, foi nesse lugar que nasceu o amor da coordenadora do projeto Nação Ubuntu, Clarissa, conheça mais essa trajetória, na entrevista que realizamos.

 FSF: Como começou sua história com a Fraternidade sem Fronteiras?

Clarissa: Foi impressionante. Eu tinha recém-chegado no Brasil e minha mãe estava estava assistindo uma palestra na televisão do Andrei Moreira, e ela me perguntou se eu conhecia a Fraternidade, eu disse que conhecia, mas que sabia que eles atuavam só em Moçambique e que minha missão era no Malawi, nisso eu deixei passar. Dois dias depois, um amigo me liga perguntando sobre a África e novamente veio à pergunta: “Você conhece a Fraternidade sem Fronteiras?”, afirmando que eu iria gostar, porque a Organização tem o Divaldo Franco, foi então, que mais uma vez eu explico que missão era no Malawi. Uma semana depois, eu recebo uma mensagem no Facebook de uma mulher chamada Vanessa, dizendo que tem uma ONG que manda roupinhas para a África, que tinha lido sobre mim e acreditava que tinha tudo a ver, assim, ela me convida para tomar um café da manhã, eu aceito, afinal seria uma parceria legal, eu iria conseguir mandar roupinhas para o Malawi. Quando eu cheguei lá, ela me entregou um papel escrito Wagner Moura – Fraternidade sem Fronteiras e o celular dele, depois ela me disse que eu tinha que falar com ele, que tinha tudo para dar certo. Foi quando eu olhei para o céu e disse: “Ok Deus, já entendi o recado, são duas semanas ouvindo falar sobre essa Fraternidade sem Fronteiras. Eu vou atrás deles!”.

 FSF: Depois que você conseguiu o contato do presidente da Fraternidade sem Fronteiras, você ligou de imediato?

Clarissa: Não, eu acreditei que seria melhor enviar um e-mail. Foi aí que eu mandei um e-mail

Criança que vivem no Malawi

contando sobre minha história com o Malawi. O Wagner me respondeu e pediu pra eu ligar para ele. Conversamos e ele me convidou para conhecer o projeto Acolher Moçambique e dar um apoio na coordenação dos centros de acolhimentos, eu aceitei o convite e embarquei para o local. Ao chegar no projeto, você sente aquela paz surreal, foi ali que eu notei o quanto o pouquinho de cada um, fazia toda a diferença naquele lugar e na vida daquelas pessoas. Passou três dias, o Wagner chegou em mim e perguntou o que eu estava achando do projeto, eu disse que era um trabalho maravilhoso. Então, ele conversa comigo e comenta que ele sentia que o meu coração estava no Malawi, que todas às vezes que eu falava do Malawi era uma energia diferente. Alguns dias depois, nós estávamos no Malawi.

 FSF: Desde que essa parceria começou, quais já foram às conquistas?  

Oficina de capacitação dada aos acolhidos do projeto Nação Ubuntu

Clarissa: As conquistas são diárias, só de você receber um sorriso de gratidão, você já entende o significado de tudo. Lançamos o projeto em setembro de 2018, e iniciamos várias campanhas na época para arrecadar fundos. Com isso, já vamos completar dois anos de conquistas. Graças a Deus e ao pouquinho de cada voluntário/padrinho, hoje contamos com uma estrutura de salas de aula para as nossas crianças de 3 a 5 anos. Para os adultos, foram instalados espaços para aulas de costura, artes e biocarvão. Estamos construindo um refeitório, que é uma obra cara, mas conseguimos recursos para dar andamento a este sonho.

FSF: Falando em campanha, tem alguma campanha nova?

Clarissa: Recentemente começamos uma campanha que se chama “Casas do Coração”, que são construções de casas para as famílias que vivem em área de trânsito. É um local onde os refugiados vivem aglomerados e dormem no chão, porque chegam no campo de refugiados e não têm condições de ter um lar. Nosso foco é tirar todas as famílias dessa área, depois que conseguirmos mudar essa realidade, iremos reconstruir as casas dos mais vulneráveis, começando como prioridade, as casas de mulheres que moram sozinhas com os filhos, crianças órfãs ou deficientes. Mas já está dando tudo certo, graças a Deus. Já construímos duas casas e agora estamos construindo mais cinco. Em breve, iremos construir mais quatro. Aos poucos, nossos sonhos estão se tornando realidade

FSF: Como está o projeto Nação Ubuntu diante da pandemia?

Clarissa: Estamos com a escola fechada devido ao decreto do governo e os acolhidos estão todos em quarentena. Eles receberam materiais escolares para estudarem e brincarem em casa. Continuamos entregando comida para as crianças e para os nossos voluntários, com todos os cuidados necessários para não ter aglomeração. Também, continuamos com as nossas oficinas de sabão e costura, para distribuir sabão e máscaras para as pessoas mais vulneráveis do campo de refugiado, são ações importantes, né? Afinal, é uma prevenção ao COVID.

FSF: A ação da agroecologia ainda continua?

Clarissa: Sim, continua no projeto, não tem como parar. Estamos produzindo alimentos e entregando para todos que participam do projeto, também distribuímos para os mais vulneráveis do campo. Mas ressalto que estamos mantendo todos os cuidados necessários. Só não paramos com essas atividades, porque são essenciais.

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Emanuel Pizarro

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