O grupo de voluntários é formado por professores do Brasil e dos Estados Unidos, que ensinam que para a educação não existem fronteiras
Por: Ana Barbosa – jornalista voluntária
Três vezes por semana, às terças, sextas e sábados, o grupo de professores de inglês e voluntários da Fraternidade sem Fronteiras (FSF) aparecem na tela dos computadores do orfanato do Chemin du Futur. Do outro lado, os meninos aguardam a conexão e, entre sorrisos, recebem mais do que o aprendizado de um novo idioma: recebem amor e acolhimento. A turma é composta por vinte meninos, entre seis e dezoito anos, acolhidos do projeto Chemin du Futur, localizado em Dakar, capital do Senegal.
As aulas de inglês tiveram início em junho de 2020, em período de pandemia – momento em que vários trabalhos de voluntariado foram suspensos. A iniciativa veio da professora de inglês Fernanda Moreira, de Ipuã, interior de São Paulo, que possui vinte anos de experiência no ensino da língua e atua em outros projetos da FSF. “Numa noite não consegui dormir e ficava pensando: ‘eu preciso fazer alguma coisa’. Aí veio na minha cabeça ‘fala com o Edmilson do Chemin du Furtur, os meninos estão no orfanato em quarentena… Será que tem algum computador lá? Acho que não tem. Mas pergunta’. Essa conversa ficou na minha cabeça a noite inteira”, conta.
O sincero desejo que Fernanda alimentou naquela noite em contribuir como voluntária, de maneira que a pandemia não fosse obstáculo, começou a tomar forma no dia seguinte, quando, dos Estados Unidos, Angelita de Paula, uma amiga que também é voluntária da FSF e coordena o Fraternity Without Borders, pegou o telefone e ligou para ela contando que uma professora, que vive na Florida, havia manifestado interesse em ser voluntária no ensino de inglês. A surpresa de Fernanda não acabou por aí, a amiga revelou a intenção de criar um projeto de ensino para os meninos do Chemin du Futur.
O sonho da Fernanda começava a se concretizar. Sem perder tempo, ela entrou em contato com a professora da Flórida, Laís dos Anjos Soares, e o projeto English in Senegal começou a criar forma em poucos dias. “Quando conheci a Laís vi logo que deu liga, a gente se completou. Logo vieram outras professoras do Brasil e Estados Unidos e já somos em seis pessoas envolvidas. Temos o apoio incondicional do Edmilson que coordena o Chemin du Futur”, diz Fernanda.
Fernanda e Laís já eram madrinhas da FSF antes de se envolverem com os projetos de voluntariado. A história das duas com o voluntariado tem muito em comum, porque ambas sentiam que precisavam fazer alguma coisa a mais na FSF além de apadrinhar projetos. “Eu me apaixonei ao ver as ações da Fraternidade, os projetos, mas não me envolvi muito, só que no meu coração tinha aquela vontade de fazer algo mais” conta Laís. O ponto de virada para ela foi ver a divulgação do Sonhar sem Fronteiras, um projeto de acolhimento e capacitação profissional para jovens em Muzumuia/Moçambique, durante uma live produzida pela FSF. “A imagem ficou fixa na minha cabeça. Eu estava trabalhando, fazendo qualquer coisa e aquela imagem vinha na minha cabeça” conta.
A missão já estava no caminho das duas professoras que, logo após o primeiro contato, marcaram a primeira reunião pedagógica do English in Senegal. “Foi algo maior, mais sério e profissional. O trabalho é voluntário, mas é profissional. Eu gosto de assumir compromisso e quando eu vi isso na Fernanda eu falei ‘gente, isso que é nível’ ” enfatiza Laís sorrindo e lembrando que em trabalhos voluntários nem sempre há envolvimento e compromisso genuíno das pessoas.
Tudo foi planejado rapidamente. Em poucos dias as professoras alinharam os detalhes com Edmilson Neto (coordenador do projeto) e com Mark Diompy (monitor no orfanato), que fizeram um levantamento dos meninos interessados em aprender um novo idioma. “Parece que todos estavam conectados nessa ideia, todas as respostas que precisávamos para iniciar as aulas vieram rápidas e em poucos dias aconteceu a reunião com os meninos e para nossa surpresa vieram todos os meninos”, conta Laís.
Inicialmente o projeto contava com quatro professores sob a coordenação de Fernanda e Laís, mas terminou o semestre com a participação de mais três professores assistentes que acompanharam as aulas com o intuito de se tornarem também professores voluntários futuramente. “A minha aula está sendo uma festa, é uma alegria. Eu tenho a responsabilidade de planejar as aulas, montar o material pedagógico, mas a participação dos outros professores têm enriquecido as aulas porque nós conversamos em inglês e os meninos pegam muito mais rápido” explica Laís.
O balanço do aprendizado dos meninos nesse primeiro semestre de aulas foi muito positivo, pois alunos muito novinhos que ainda nem tinham ainda ido à escola demonstraram resultados surpreendentes. “Os meninos estão indo super bem, temos um caso de um aluno que é um dos mais novos que demonstrava no início muita dificuldade, inclusive de escrita, hoje já se adianta nas respostas”, revela Laís
São esses aprendizados e trocas fraternas que motivam ainda mais o grupo de voluntários em doar suas habilidades e tempo para proporcionar conhecimento e um futuro melhor aos meninos acolhidos do Chemin du Futur.
SOBRE O CHEMIN DU FUTUR – Chemin du Futur quer dizer em francês, língua oficial do país, “caminho para o futuro” e foi criado em 2012 pelo tenente do Corpo de Bombeiros Militar, atualmente aposentado, Edmilson dos Santos Neto, com o objetivo de tirar das ruas e dar condições dignas de vida e preparar os meninos, vítimas do fenômeno de vertente islâmica talibés, para a universidade e mercado de trabalho. No orfanato, os meninos recebem toda a assistência necessária para continuarem o estudo, além de alimentação, atendimentos médicos, capacitação profissional e, recentemente, aulas de idiomas.
Esse trabalho de resgate e acolhimento aos meninos só é possível porque padrinhos e madrinhas abraçaram essa causa junto com a FSF e, hoje, através do apadrinhamento, possibilitam a manutenção do projeto.
Para saber mais sobre o projeto Chemin du Futur, clique aqui. Se quiser tornar-se um padrinhos/madrinha da FSF e contribuir para que mais meninos sejam acolhidos, clique aqui.