“Quanto mais a gente se dedica ao outro, mais a gente quer fazer isso” – Prince Kalolo.
Por: Suelen Targon – jornalista voluntária da FSF
Em meio a tantos acontecimentos no mundo, ainda há quem se preocupe com o próximo, dedicando-se a uma vida de amor e de Ubuntu, como é a história do coordenador do projeto Ação Madagascar da Fraternidade sem Fronteiras (FSF), Prince Kalolo, de 28 anos.
O líder Ubuntu Prince chegou ao Malawi/África como refugiado, foi acolhido pela FSF e já pertence a esta família fraterna há dois anos e, atualmente, trabalha na administração de um dos projetos mais desafiadores: Ação Madagascar. No local, ele auxilia na coordenação pedagógica. “Fazer parte da FSF significa muito pra mim, estar cercado desse círculo de amor me dá forças para levantar e agir. Foi isso que me deu a identidade de ser humano, desde o começo acreditaram em mim”, ressalta Prince.
Quer saber mais? Confira a entrevista abaixo:
FSF – O que significa a palavra Ubuntu?
Prince: É uma filosofia que prega o amor, a fraternidade, a igualdade e a união. É uma ética africana que significa “eu sou o que sou porque somos todos nós”. Quem tem Ubuntu é aquele que entende que nós precisamos uns dos outros para tudo.
FSF- Há quanto tempo você faz trabalhos voluntários e por qual motivo decidiu fazê-los?
Prince: Sou voluntário há cinco anos. Quanto mais a gente se dedica ao outro, mais a gente quer fazer isso. Me sinto confortável e feliz quando estou a serviço dos outros. Eu faço esse tipo de trabalho porque me permite servir as pessoas de coração, compartilhar a energia e estar sempre pronto para o outro. Não só isso, mas também para permitir que Deus me use como instrumento para alcançar aqueles que precisam. Também é a única forma de estar perto e compreender as dores e sofrimentos dos outros para aprender.
FSF- Conte-nos sobre o sentimento de fazer parte da Fraternidade sem Fronteiras.
Prince: Sinto-me rodeado pela família de irmãos e irmãs, pai e mãe com amor, compreensão, alegria e paz. Sinto-me muito abençoado por fazer parte da família da fraternidade. Amar faz bem e estar ao lado de pessoas boas também.
FSF – Há quanto tempo você está no projeto Ação Madagascar e qual foi seu primeiro aprendizado na região?
Prince: Há dois anos. Eu lembro inclusive a data, foi dia 22 de maio de 2019. Agora, falando sobre o meu aprendizado, chegando em Ambovombe/Madagascar, já consegui sentir a filosofia Ubuntu quando escutei um pai falar “A sua doença é minha doença, a sua dor é a minha dor”. Isso me tocou muito. Esse pai disse que não comia antes que o vizinho tivesse algo para comer também. Quando estamos na nossa comunidade e vemos o outro irmão pedindo o que comer, o vizinho partilha a comida com todos. Isso é o que chamamos de Ubuntu.
FSF- Como é o sul da ilha de Madagascar? Ou melhor dizendo: como é Ambovombe?
Prince: Sabe a fome, a sede? Que doem o coração e alma? Isso é vivido por aqui diariamente. É muito triste ter que dizer isto nos dias de hoje, mas só quem conhece essa realidade sabe o quanto este local é esquecido. A miséria por aqui é extrema, são dezenas de famílias sem ter o que comer, sem qualquer condição de acessos básicos que todo ser humano deveria ter, como a água. Já vi muitas famílias se alimentando dos frutos dos cactos e da farinha de mandioca, que é desidratada nos telhados e misturada com água (quando tem água). Além disso, vale ressaltar que por aqui a água vale ouro, comercializada por valores altíssimos. Quando os moradores conseguem comprar água, eles acabam utilizando para cozinhar. Os banhos ocorrem apenas quando chove. Sem sabonete ou xampu, sem nada.
FSF – E como funciona o projeto Ação Madagascar neste local?
Prince: O projeto em Madagascar funciona nos seguintes domínios: saúde, educação, ações sociais, amor (muito amor) e cuidados diariamente. Graças aos padrinhos da causa, conseguimos atender mais de mil crianças e seus familiares todos os meses. Dando a todos suporte total para o tratamento de nutrição, não só isso, mas também fornecem instalações de saúde para as famílias vulneráveis e outras pessoas aos redores da parte sul de Madagascar. Ajudamos também no ensino do planejamento familiar, dando auxílio às gestantes. Temos também uma clínica dentro do nosso centro de acolhimento que já conquistou o coração de todos os moradores da região.
FSF – Quantas crianças são recebidas no centro de acolhimento hoje?
Prince: Temos em média 2,5 mil crianças que participam diariamente do projeto.
FSF – Como está indo o projeto com essa pandemia?
Prince: Infelizmente a situação se agravou mais. Tudo aumentou, principalmente a fome. Está muito difícil, sem chuvas, com tempestade de areia todos os dias, as pessoas não conseguem cultivar, a desnutrição aumentou, há imigração de pessoas de outras aldeias para o nosso centro de acolhimento atrás de refúgio, o número de crianças em todos os centros é cada vez maior, mas o projeto está lutando muito para lidar com as situações. Nós realmente precisamos de ajuda.
FSF- Quais são as formas de ajudar?
Prince: Existem várias, mas, hoje, a contribuição mensal do apadrinhamento vai ajudar e muito. Porque é através desse ato de amor, que conseguimos trazer sustentabilidade e permitir que uma nova criança seja acolhida pela FSF. A situação é crítica, mas só o amor humano é capaz de acabar com toda essa desigualdade e trazer esperanças.
Apadrinhe o projeto Ação Madagascar, clicando aqui, e ajude-nos a alcançar outros corações e fortalecer nossa rede de apoio aos que mais necessitam de auxílio e fraternidade.