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Apadrinhar: abrir as portas do coração e deixar a luz da solidariedade entrar

O padrinho Flávio Resende nos relembra que para estender a mão para um irmão não precisamos do extraordinário. Precisamos apenas colocar nossos talentos a serviço do bem.

Por Karla Silva – estagiária de comunicação FSF

Em mais uma live da série “Apadrinhar é amar” pudemos conhecer a história de mais um padrinho da Fraternidade sem Fronteiras. Desta vez, o jornalista Flávio Resende, de Brasília – DF e colaborador voluntário da Rede Fraterna de assessores de imprensa da Fraternidade sem Fronteiras, compartilhou a vivência fraterna com os acolhidos da FSF por meio do apadrinhamento.

Flávio soube da Organização em 2018 ao conhecer um refugiado venezuelano que foi assistido pela FSF, “Ele me contou a história dele. Uma história de muita dor. Uma história de muito sofrimento. Ele teve que abandonar a Venezuela, a família para tentar sobreviver e ajudar a família que ficou lá.”

Por meio desse encontro e sustentado pelo desejo de mergulhar na assistência humanitária, Flávio buscou saber mais sobre a Fraternidade sem Fronteiras. Em 2019, padrinho do projeto Acolher Moçambique, surgiu a oportunidade de ir para Madagascar – África em uma caravana.

“Meu coração foi tocado pelo projeto em Moçambique. É a próxima caravana que eu tenho o desejo de ir. Eu já entendi, conversando com outros voluntários, que cada caravana tem uma característica. Até quando você vai para o mesmo destino a experiência é totalmente diferente. Há relatos de pessoas que também foram para o mesmo destino que eu, em que elas perceberam coisas diferentes, ocorreram situações diferentes e eu tenho vontade de ter outras experiências viajando para outros projetos”.

Nesse momento da vida, quando conheceu a FSF, Flávio enfrentava uma depressão e crises de insônia. Mas, são nos momentos difíceis, que o coração se torna solo fértil para boas ações, para a superação, resistência, fé e esperança. Quando o sono saía de cena, o coração de Flávio conversava com ele e no silêncio o convidava para ir para a África.

“Apareceu essa oportunidade (ir em caravana para Madagascar), eu acabei desmarcando outros compromissos para poder estar nessa caravana. E eu entendi que naquele momento foi uma virada de chave para mim, eu acho que se abriram vários horizontes e eu curiosamente fui tratado da insônia depois que eu voltei. Foi uma experiência muito profunda para mim”, revela.

Antes de embarcar para a África, em setembro de 2019, Flávio tinha em mente um continente africano como o representado nas telas de cinema: a floresta, os animais e a vida selvagem. Porém, ao chegar, se deparou com uma realidade completamente diferente da idealizada.

Ao ser indagado pela FSF do porquê queria participar da viagem, nosso padrinho buscou respostas naquele cantinho do coração onde quase ninguém chega, muito provavelmente nem mesmo nós, quando tão somente racionalizamos as ações.

“Essa pergunta é muito profunda se você vai no cerne da questão, porque as motivações são as mais diferentes possíveis. A minha resposta para essa pergunta foi mergulhar naquilo que eu acredito e compreender, enxergar o ser humano sob uma ótica mais profunda, mais ampla. Foi com essa intenção que eu fiz essa viagem”, revela.

A caravana humanitária que Flávio participou era composta, na maioria, por profissionais da área da saúde e ele se perguntava como poderia ajudar nossos irmãos africanos. “O que as pessoas diziam para mim, quem já tinha ido e até os próprios coordenadores da caravana, só vai com o coração aberto. Só vai com a vontade de servir. E foi com essa intenção que eu embarquei. Eu estou disponível para servir no lugar que for necessário!”

Flávio, conduzido pelo coração, distante da ideia romântica de como era a África, deparou-se com um lugar de difícil acesso e muita pobreza. “No Brasil, por exemplo, você vê no Nordeste muita fome, seca e todas as consequências disso, mas, normalmente você tem uma mangueira em casa então, você tem acesso a uma fruta… De alguma forma você tem acesso a algo. Lá é impressionante, nesse local onde nós fomos, Ambovombe (Madagascar), chove muito pouco, então, a consequência da escassez de chuva é a dificuldade em se cultivar as coisas, sejam os animais, sejam as plantações. A escassez da água reflete diretamente na qualidade de vida dessas pessoas.”

Sensível à troca de energias entre pessoas, coisas e ao lugar, Flávio conta que a energia que envolvia a cidade de Ambovombe era indescritível, o que o deixou muito desconfortável, mas, tudo se fez mais leve… Um vento leve, quando chegou ao polo de trabalho da FSF. “É impressionante como a energia muda completamente. É uma energia de luz! A presença das crianças, o lugar… É muito forte energeticamente.”

E essa força é o que movimenta os corações fraternos em direção à luz que direciona para o bem, para a doação de tempo, trabalho, calor, fraternidade e aprendizado. E, com este pensamento, nosso padrinho reflete sobre a filosofia Ubuntu: “eu sou porque nós somos” e o que ele aprendeu na África. “Lá eu pude observar a filosofia sendo praticada nas relações, nas interações. Eles entendem e isso é muito orgânico, é muito deles que não faz sentido ele comer se o outro não comer. Não faz sentido ele ser alguém se o outro não for”.

Mas, mais do que ver, Flávio vivenciou uma experiência que o fez entender a profundidade e a humanidade presente na filosofia. “Um dia eu convidei algumas crianças para fazer um piquenique. Era final de tarde, eu e outros caravaneiros fomos para um morro distante, para chegar nesse morro era uma boa caminhada e eles muito felizes. Quando nós chegamos lá e estendemos a toalha e eles ficaram muito curiosos sobre o que ia acontecer ali e eu comecei a tirar as coisas da mochila: os biscoitos, os doces, os chocolates e eles ficaram encantados. De repente, aparecem outras crianças e eu pensei: O que eu vou fazer? Eu não tenho comida suficiente. A decisão que nós caravaneiros que estavam ali, naquele momento, foi deixar acontecer. No momento que a gente começou a compartilhar as comidinhas, eles pegavam um pedacinho e entregava para o outro que tirava um pedacinho e entregava para o outro…Ali a gente entendeu o que é a filosofia Ubuntu. Eu me emocionei ao ver essa cena. Eu entendi que a gente tem muito o que aprender com os africanos.”

As necessidades, questões relacionadas a moradia e a atenção básica de saúde, os atendimentos no centro de atendimento à saúde na unidade Campo da Paz, e demais urgências daquele povo tocam o coração deste padrinho profundamente. O que foi possível fazer para amenizar as carências de nossos irmãos, durante sua breve estada na África, Flávio colaborou, envolveu-se, se doou e toda essa vivência o fez refletir sobre o mote da série de lives: Apadrinhar é amar!

“Lá, o que eu pude observar é que esse slogan da campanha ‘Apadrinhar é amar’ de fato é isso que acontece na prática. O pilar, o que alicerça esse trabalho é o amor. Quando você conhece você entende que uma contribuição que para você não vai fazer diferença, mas que no somatório de várias pessoas apadrinhando elas garantem esse atendimento. É muito comum as pessoas quererem ajudar, contribuir por um mês e é super válido também, a Fraternidade tem campanhas sazonais em que, às vezes, é para um objetivo específico, mas o que faz realmente a diferença é o apadrinhamento. A gente pode perceber lá.”

Com o apadrinhamento e a contribuição mensal de R$ 50 é possível assegurar a continuidade do trabalho de acolhimento dos 10 projetos da Organização. E é pelo amor das pessoas que acreditam no trabalho da FSF que mais pessoas podem se sentir amadas, amparadas e importantes! Porque é por meio do apadrinhamento que, independentemente da distância geográfica, elas sabem que não estão sozinhas e que alguém se importa. 

E como se importa, age! Flávio acredita que neste momento de pandemia a solidariedade tomou conta do coração de muitas pessoas e a irmandade ganhou mais espaço. “Pessoas que nunca se envolveram com voluntariado têm se interessado por isso, porque entenderam que não faz muito sentido você canalizar todas as suas energias para si próprio. Que nesse momento é importante a gente olhar para o outro que às vezes está em uma condição difícil e não vê saída. E não necessariamente com dinheiro, às vezes é com outro tipo de apoio. Qual talento você tem que é possível disponibilizar?” 

A experiência da caravana para Madagascar foi importante para Flávio, não somente por estreitar laços entre padrinhos e acolhidos, ou por contribuir com o amadurecimento dele, mas também porque foi terreno fértil para que nosso padrinho superasse a depressão.

“A depressão me trouxe uma sensação de suficiência. Eu acho que sofrer me trouxe essa sensação de que eu não preciso mais correr tanto, têm outras coisas que preenchem e buscar essas coisas faz mais sentido para mim do que buscar coisas materiais ou ascensão profissional. Essa experiência mudou a minha forma de enxergar a vida. Claro que é importante olhar para o nosso lado profissional porque a gente não vai ser demagogo para dizer que não é importante. A gente vive em um mundo que ainda é necessário o recurso financeiro para você sobreviver, mas existem muitas outras coisas que são complementares e são tão importantes quanto”.

Com essa mudança de chave, fica a percepção que apadrinhar é amar, mas é também um mergulho no que realmente importa, é buscar igualdade porque reconhecemos o outro como irmão, é presentear a alma com sinergia espiritual que conecta corpo, mente e coração, e é sobre gratidão também. Uma energia poderosa que envolve acolhidos e padrinhos.

“Eu sou muito grato à Fraternidade por me abrir possibilidades de conhecer outras realidades, de entender, descobrir meus próprios talentos adormecidos que eu não conhecia e poder usá-los a favor de algo que conecta com a minha essência, com aquilo que eu acredito ou com aquilo que eu imagino que possa ser útil para transformar o mundo que eu quero que meus filhos um dia habitem. Sou muito grato à Fraternidade por essas experiências. A caravana foi uma das experiências, mas no dia a dia estou convivendo com o que acontece, estou acessando as informações do que é realizado, nós que somos padrinhos recebemos um material informacional que trazem todos esses resultados a partir das contribuições. Muito feliz de fazer parte. Muito feliz de compreender essa realidade de uma forma mais panorâmica quando eu entendi que existem tantas demandas, existem tantas possibilidades de servir que eu posso sim escolher aquelas que conectam com o meu coração”, finaliza.

Assista a live na íntegra clicando aqui. As lives são transmitidas pelo Instagram da FSF, às quartas-feiras, às 19h (horário de Brasília), com o objetivo de reforçar a importância do apadrinhamento. Além disso, são uma oportunidade para apresentar os padrinhos e madrinhas que mantêm os projetos da Organização. Também quer participar? Entre em contato com um dos nossos canais de relacionamento.

 

 

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Emanuel Pizarro

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