Por Taemã Oliveira, assessoria de imprensa FSF/Boa Vista – Roraima
Aguenta coração, segura a emoção que vem história emocionante aí. Os projetos Fraternidade na Rua, com o polo de São Paulo, e “Brasil, um coração que acolhe”, em Roraima, ambos da Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras (FSF), se uniram em agosto de 2021 para uma grande missão que tinha data só para começar: proporcionar o reencontro de uma mãe e com filho, que foram privados do convívio pelo que acreditamos que não deveria existir: uma fronteira, a fronteira entre Brasil e Venezuela.
Alícia Victoria Vargas Lopes, venezuelana, que mora em São Paulo -SP desde 2019, foi até Pacaraima, em Roraima, buscar o filho. Ela desembarcou em Boa Vista no dia 13 de agosto, onde passou quase um mês hospedada na casa de uma amiga, na periferia da capital roraimense. No dia 4 de setembro, após muitas negociações, arrecadação de verbas para enviar ao país vizinho, o menino Ivan Alexander Jove Vargas, de 14 anos, conseguiu chegar, na companhia de um primo, até Santa Helena, cidade venezuelana fronteiriça.
No mesmo dia, Victoria então foi de transporte intermunicipal para Pacaraima, fronteira brasileira com Santa Helena, para esperar o filho atravessar a fronteira. E assim foi. Mesmo debaixo de muita chuva, de nada ter acontecido como o planejado, Ivan chegou ao Brasil são e salvo e se reencontrou com a mãe no meio da rua. “Choveu muito e fiquei com muito medo de ter que voltar. Mas deu tudo certo. Agora estou feliz de estar com a minha mãe, me sinto seguro agora”, disse Ivan.
Mãe e filho passaram mais de 3 meses em Pacaraima, onde ficaram acolhidos na sede de uma igreja parceira da FSF. Eles ficaram todo esse tempo tentando regularizar a documentação brasileira e dar entrada em um processo de interiorização, sem êxito com a interiorização. Então, mais uma vez, com a ajuda de doações, Victoria e Ivan conseguiram seguir viagem. No dia 15 de dezembro, chegaram em Boa Vista e já seguiram viagem de avião para São Paulo.
“Descobri que meu filho passou o primeiro semestre de 2021 comendo, diariamente, pão e café. Isso me fez pensar que eu precisava pedir ajuda e enfrentar qualquer situação pra tirá-lo da Venezuela. Em São Paulo, a Fraternidade na Rua disse que ajudaria e então eles fizeram várias campanhas para nos ajudar. Agradeço a todos por hoje eu estar novamente com meu filho ao meu lado”, disse Victoria emocionada ao lado de Ivan.
Victoria, o esposo e a filha do casal, Franlys, vieram para o Brasil em 2019, na expectativa de deixar para trás a crise econômica e política na Venezuela. Vieram morar com um tio dela que já morava em São Paulo. Ivan ficou no país vizinho porque o dinheiro era pouco e só era suficiente para os gastos de Victoria com a filha menor.
“Nós, do projeto ‘Brasil, um coração que acolhe’ ficamos extremamente felizes com o contato do Fraternidade na Rua, de São Paulo, e de poder ajudar essa mãe com o filho em Roraima. Seguimos as diretrizes internacionais de acolhimento a refugiados e migrantes, tratamos todos igualmente e sabemos que um fluxo deve ser seguido, afinal, muitas famílias estão na mesma situação. Mas podemos ajudar com orientações, acolhimento, alimentação e transporte, e foi o que fizemos. Somos gratos a todos que ajudaram”, finalizou Arthur Dias, coordenador do Projeto em Roraima.
Para quem acompanhou essa história desde cedo, pode até ser clichê, mas a sensação é de dever cumprido. “Todos foram essenciais nesse processo e só o que podemos dizer é que somos muito gratos por todo o aprendizado e por esse reencontro”, disse a voluntária do Fraternidade na Rua de São Paulo, Francielle Benevides.