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Em Roraima, o Projeto “Brasil, um coração que acolhe” oportuniza a participação de indígenas venezuelanos E’ñepa em eventos de empreendedorismo 

O Boa Vista Junina marcou a primeira vez em que estes indígenas refugiados e migrantes puderam comercializar seus artesanatos em uma grande feira aberta ao público

Por Taemã Oliveira, assistente de comunicação FSF

 

 

Em Boa Vista, Roraima, o Projeto “Brasil, um coração que acolhe”, da Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras (FSF) esteve presente em três dos oito dias da Boa Vista Junina, festa junina aberta ao público do município. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em uma parceria com a Prefeitura Municipal de Boa Vista, oportunizou às agências parceiras a participação no evento, com um stand de exposição, para os acolhidos que voluntariamente se prontificaram a comercializar seus produtos. 

O Projeto “Brasil, um coração que acolhe” faz, como membro da Operação Acolhida – resposta do governo brasileiro à crise humanitária – e parceiro implementador do ACNUR, a gestão de três centros de acolhimento, entre eles o Centro de Acolhimento Índígena Jardim Floresta. O espaço acolhe uma média de 430 indígenas refugiados e migrantes venezuelanos, de 4 diferentes etnias: a maioria é Warao, mas estão também, na mesma situação, E’ñepas, Karinas e Akawaeios. 

“Os E’ñepas nunca participaram de um evento tão grandioso como esse e nós começamos no início do ano esse trabalho com eles, de aproximação, de ganhar confiança, de trazer eles mais para perto da nossa gestão por meio das reuniões com os líderes”, explica o gestor de participação comunitária do Jardim Floresta, Lázaro Almeida. São poucos os indígenas E’ñepas que falam espanhol e entendem um pouco de português, o que dificulta a comunicação. A maioria fala a própria língua. 

Por isso, a etnia tem dificuldade de se inserir nas atividades gerais do Centro de Acolhimento e até mesmo de interagir com as demais etnias. Desta forma, acabam ficando mais reclusos e fechados em sua própria comunidade original. “Eles trabalham mais com as sementes, flechas, é algo mais deles. E a gente começou a incentivar o empreendedorismo deles com aquisição de materiais, palestras de incentivo. Nós fizemos a criação do Pix para essas comunidades que não tinham nem conta bancária”, concluiu Almeida sobre a atuação da Fraternidade sem Fronteiras com esta etnia específica e que se entende para as demais. 

Os E’ñepa manuseiam sementes na confecção de colares e pulseiras, fazem iconografias e pintam as madeiras tratadas que dão origem a arcos e flechas decorativos. Na Venezuela, eles também fabricavam cestos, redes e artefatos variados, mas não conseguem incentivo para comprar a matéria prima no Brasil.

A etnia foi uma das primeiras etnias indígenas venezuelanas a chegarem ao Brasil, quando a crise econômica e política no país começou a influenciar na qualidade de vida dentro das próprias comunidades, em razão de fatores que atingiam os direitos em suas terras. Eles dizem que a crise prejudicou o comércio com a cidade e eles passaram a ter dificuldade de vender os artefatos e se sustentar, passaram a viver em situação de vulnerabilidade, sendo os indígenas, de modo geral, os primeiros a sentir a crise econômica do país e começar o processo de refúgio e migração para outros países da América Latina.

Mas eles têm um histórico de migrações. Eles são originalmente no norte da Venezuela, mas foram migrando dentro do próprio país e passaram a ocupar as regiões de Orinoco e Amazonas, ocupando espaços de etnias já extintas. Mais recentemente foram expulsos das terras por fazendeiros criadores de gado e mineradores. Neste contexto, é importante ressaltar que a  Venezuela não tem lei federal de demarcação de terras indígenas. 

Os caciques que estão no centro de acolhimento Jardim Floresta contam um pouco da origem dessa etnia que vem da região das montanhas. A etnia veio de uma montanha, da mesma onde nasce o rio Cuchivero, localizado na região norte da Venezuela, ainda em região de Floresta Amazônica. Eles contam que dessa montanha saíram os crioulos, como eles chamam os latino-americanos miscigenados com ascendência europeia. E saíram dois E’ñepas. Esta seria a origem do povo venezuelano e desta etnia indígena. 

Eles são conhecidos no meio científico como Panare e são entre 3 a 4 mil indivíduos. “Ver a população indígena fora de sua terra nos dói. Mas em um deslocamento forçado, fora também de seu país, é duplamente sofrido. O que nós estamos fazendo aqui é um trabalho de estabelecimento de confiança entre nós da Fraternidade sem Fronteiras e todas as etnias, sem distinção, para que assim possamos ajudá-los no que seja importante para eles, visando sempre a preservação cultural deles. Ao nosso ver, já têm dado certo”, Arthur Dias, gerente do Projeto Brasil, um coração que acolhe.

 

 

Sobre o Projeto “Brasil, um coração que acolhe” O projeto foi criado em outubro de 2017, após o aumento significativo do fluxo migratório da Venezuela para o Brasil, via Roraima. Na época, milhares de irmãos venezuelanos entravam diariamente no Brasil, legal e ilegalmente, e chegando aqui passaram a viver em situação de vulnerabilidade, sem casa e sem comida, nas ruas, principalmente, de Pacaraima e Boa Vista, onde estão as frentes de atuação do BCA. Hoje o projeto acolhe, em Roraima, mais de 2 mil refugiados e migrantes, com moradia, alimentação, serviços de proteção, atividades para as crianças e capacitações para adolescentes e adultos. São 5 frentes de trabalho, sendo 3 Centros de Acolhimento (Abrigos) em Boa Vista, um Centro de Referência e Capacitação em Pacaraima e o Setor de Interiorização que atua nos dois municípios. Apadrinhando você ajuda a manter essas atividades e a abrir novas vagas para quem está aguardando por acolhimento. Sendo um Acolhedor Voluntário você proporciona um recomeço para uma família venezuelana no Brasil. Saiba mais acessando: Brasil, um coração que acolhe

Sobre a Fraternidade sem Fronteiras – A FSF é uma Organização humanitária e Não-Governamental, com sede em Campo Grande (MS) e atuação brasileira e internacional, com atuação em oito países, em alguns dos lugares mais pobres do planeta, com esperança e profundo desejo de ajudar, acabar com a fome e construir um mundo de paz. A instituição possui 74 polos de trabalho, mantém centros de acolhimento, oferece alimentação, saúde, formação profissionalizante, educação, cultivo sustentável, construção de casas e ainda, abraça projetos de crianças com microcefalia e doença rara. Todos os trabalhos são mantidos por meio de doações e principalmente pelo apadrinhamento. Mais informações podem ser obtidas pelo site https://www.fraternidadesemfronteiras.org.br

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